Falta de planejamento urbano é tragédia anunciada em Atibaia

Falta de planejamento urbano é tragédia anunciada em Atibaia

A especulação imobiliária desenfreada aliada a falta de capacidade técnica dos órgãos competentes coloca Atibaia em estado de alerta.

Para o professor Manuel Enrique Gamero, do curso de Engenharia Ambiental do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Sorocaba), a causa principal dos frequentes alagamentos que ocorreram nas cidades, em função das chuvas, é a impermeabilização do solo. Com experiência na área de Hidrologia, com ênfase em Planejamento Integrado dos Recursos Hídricos, Gamero explica que a impermeabilização do solo é um problema geral em todas as cidades e que, aliada à falta de planejamento dos municípios, o crescimento urbano desordenado (como é o caso de Atibaia) e as chuvas intensas localizadas acabam provocando, em uma área impermeabilizada, os problemas de alagamentos de avenidas – como tem ocorrido em bairros como Kanimar. Terceiro Centenário, Parque das Nações e adjacências.

A impermeabilização é o processo construtivo que tem por objetivo impedir que a água (ou outro fluído) penetre em uma estrutura ou escape dela. “Primeiro, precisamos entender e lembrar que a causa principal é a impermeabilização do solo. É um problema geral em todas as cidades. Lamentavelmente, não houve, no passado, planejamento das cidades. O crescimento urbano foi (e continua sendo) desordenado. Somado a isto, tem-se que, nos meses de verão, ocorrem chuvas intensas localizadas que provocam, todo ano, numa área impermeabilizada, os problemas de alagamentos de avenidas”, ressaltou.

Em relação aos córregos como Piqueri, Folha Larga e outros que ficam próximos a avenidas, tudo foi impermeabilizado. Com áreas impermeabilizadas, e alguns córregos canalizados, o curso natural foi alterado. Somando-se a impermeabilização e chuvas intensas, temos os alagamentos nas avenidas. Infelizmente, soluções nestes casos, para a recuperação destas áreas, principalmente centrais, são praticamente inviáveis, visto que projetos desta magnitude requerem custos muito elevados, algo que aqui não funcionaria..

Sobre os trabalhos de desassoreamento dos rios para evitar os transbordamentos, Gamero disse que é a ação é somente paliativa. “É a mesma coisa, chover no molhado. Já é tarde para ter uma solução definitiva, o desassoreamento atual é paliativo. Em dois anos ou mais, voltará à mesma condição atual. Isso porque não houve a manutenção das áreas das nascentes e áreas de preservação permanentes (APP), e nem o planejamento do ordenamento das cidades. Assim, a natureza continuará enviando as chuvas intensas no verão e a cidade continuará a sofrer as consequências disso”, alertou Gamero.

Mas a solução pode estar debaixo dos nossos olhos, ou mais precisamente, dos nossos pés. Basta olharmos para o chão o qual pisamos; ele é a solução para diminuirmos as enxurradas nas nossas cidades. A urbanização crescente com a impermeabilização das superfícies e o asfaltamento das ruas faz com que todas as chuvas que caiam sejam escoadas e não drenem para o solo. E essa é a receita perfeita para as enchentes: chuva e solo impermeabilizado. E a solução está longe de ser voltar a andar em ruas de chão batido.

A taxa de permeabilidade de solos urbanos varia de cidade para cidade, indo de valores de 25% a 35%.  Os valores indicados são em torno de 30% de solo urbano com capacidade de drenagem para que haja um escoamento suficiente das chuvas. É importante que esse percentual seja distribuído de forma igualitária entre todas as regiões das cidades.

O uso de pavimentos e calçadas permeáveis são as melhores alternativas para o escoamento das águas. Além disso, áreas de vegetação, parques e praças urbanas exercem papel fundamental para esse equilíbrio hídrico. As plantas auxiliam muito nesse processo, principalmente grandes árvores, já que suas raízes aumentam a porosidade do solo e, consequentemente, a capacidade de absorção de água dos solos.

Cabe aos municípios delimitarem valores mínimos de áreas permeáveis nos terrenos e lotes de cada local, bem como incentivarem a população a utilizarem pavimentos permeáveis em suas calçadas e coberturas internas. Mas o maior desafio ainda é em grandes centros urbanos já consolidados; a arborização além de diminuir a intensidade das chuvas, auxilia no escoamento gradual das águas.

TRAGÉDIA ANUNCIADA

Na contramão de tudo isso, Atibaia segue sem uma política definida de planejamento e com a liberação de diversos empreendimentos duvidosos no quesito preocupação com o meio ambiente.

Exemplo clássico é o Central Ville no Terceiro Centenário, bairro historicamente afetado pelas enchentes. São 224 lotes residenciais de apenas 176 metros quadrados e outros 29 lotes comerciais em uma área de 49.168,66m2 que sempre foi conhecida como várzea do Rio Atibaia.

A movimentação de terra no local colocará o empreendimento acima do nível do bairro, fato que ocorreu na época da construção do Condomínio Santa Mônica no mesmo bairro. O resultado: forma uma espécie de contenção e atinge as laterais dos bairros nos casos de enchentes como ocorreu nas enchentes de 2011/2012.

Com tamanho descontrole e colocando em risco iminente a população a única pergunta que fica: Onde está o Ministério Público?

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